Estudo e interpretação do corpo que dá forma a Cidade do Funchal. Leitura atenta dos elementos diferenciados da cidade, das suas conexões que podem contribuir para uma cidade colaborativa na sua evolução.

LUGARES FORMA

ESTRUTURAS ECOLÓGICAS

FUNCHAL


Modelo

O Modelo de reordenamento da Paisagem do Funchal, deverá partir desta constatação, e da clarificação do papel que os grandes espaços ‘naturais’ têm no equilíbrio do ecossistema urbano. Neste sentido podemos referir nos níveis distintos da Estrutura Ecológica do Funchal: um nível Primário, constituído pela mancha Florestal na cabeceira das bacias hidrográficas, pelos corredores das três Ribeiras, e pela frente de Mar; e um nível Secundário, constituído por um ‘arquipélago’ de espaços abertos (Jardins, Quintas, Praças e Pátios) que se articulam no tecido denso do centro Histórico.
O Sistema Primário corresponde a um sistema de mancha e corredores, em que como a forma de uma mão, a palma e os dedos se completam, atravessando e vivificando a mancha mais ou menos compacta do tecido edificado. A mancha em coroa Florestal, que deverá ocupar a cabeceira das Ribeiras (estabilizando o solo e promovendo a infiltração e o retardamento do escoamento original da água pluvial) deverá, de forma o mais contínua possível, prolongar-se no terço superior e médio das três Ribeiras, que drenam e escoam a água pluvial até ao Mar. O terço inferior, já canalizado por Oudinot, teria um caracter mais artificial de Alameda inserida na malha urbana. A avenida do Mar, que articula as três Ribeiras entre si, formando um extenso espaço público litoral, deverá ser mais articulado nos seus vários troços, abrindose sempre que necessário aos espaços urbanos do tecido do centro Histórico.
O Sistema Secundário corresponde a uma morfologia de arquipélago, em que as ruas arborizadas e os jardins públicos, deverão interagir com uma maior permeabilidade do interior dos quarteirões, ou dos pátios interiores, que progressivamente se têm aberto ao uso ou acesso público, com resultados de forte e interessante apropriação.


Tipologia

O Modelo de Estrutura Ecológica a desenvolver em articulação com o PDM do Funchal, acima descrito, pressupõe uma Tipologia de espaços abertos, que visam transformar a condição existente nos vales das Ribeiras, adaptando o seu caracter espacial a um perfil mais urbano, e menos infra-estrutural. Os vales das Ribeiras deverão assim adquirir um valor urbano de transição entre o tecido urbano compacto e Histórico, e a qualidade mais natural do Parque Ecológico do Funchal, integrando pelo caminho espaço industriais e logísticos, bairros de génese expontânea, nós rodoviários entre outros espaços que a Cidade deixou acumular, mas que não constituem transição para montante. Os espaços que integram o Modelo proposto, teriam a seguinte Tipologia:
Floresta Laurisilva e Floresta de Produção Correspondem aos espaços que ocupam as cabeceiras das bacias hidrográficas, e os terços superiores dos vales, cuja morfologia não as tornou até hoje aptas para usos Agrícolas ou Urbanos. Os espaços mais declivosos e de maior instabilidade Geológica, constituem zonas de Risco, aonde a Erosão do solo constitui um dos factores críticos da Pedogénese, e a instabilidade das massas rochosas poderá constituir um factor de Risco acrescido. A gestão actual, considerando a Propriedade Privada e a Propriedade do Domínio Público, não tem sido capaz de evitar a ignição e propagação de Incêndios Florestais, nem tem sido capaz de promover uma absorção e retenção de água no Solo, que sirva de modo equilibrado Ecossistema. Em parte deveu-se este fenómeno, á Tipologia de coberto Florestal, em que a dominância e distribuição de espécies exóticas, não tem permitido uma gestão e Manutenção apropriadas. A instalação e permanência de um coberto Florestal composto por espécies autócnes, de estrutura diversificada e adaptada ás condições dos Biótopos em presença, deverá vir a ocupar exclusivamente as áreas consideradas inacessíveis ás práticas
culturais; e em mosaico com espécies de Produção Florestal, deverá partilhar de forma inclusiva os espaços aptos para as práticas Silvícolas. Deverá toda a zona de Cabeceira das Bacias Hidrográficas do Funchal, ser sujeito a um Plano de Ordenamento Paisagístico, em que a um uso do solo vocacionado para a Conservação do Ecossistema (Solo, Água e Biodiversidade) se articule com um uso do solo vocacionado para a Produção Florestal (em estrutura de mosaico compartimentado pelos corredores de autócnes, ou de prados de altitude que permitam o ressurgimento de uma Pastorícia adequada, e naturalmente a um uso do solo vocacionado para o Recreio e Turismo de Natureza. Sabemos igualmente que é nesta zona que se formam as captações de água para as Levadas, que são elementos estruturantes da Paisagem do Funchal, e que articulados pela rede de caminhos, trilhos e estradas Florestais, constituem o verdadeiro sistema de acesso e utilização desta importante componente, que permitirá a desejável continuidade de todo o sistema
que forma a Estrutura Ecológica Primária. A reabilitação do sistema de povoamento nucleado ou disperso, é igualmente fundamental para apoiar e sustentar as funções de Conservação, Produção, Recreio e Turismo de Natureza.
Este espaço deverá ser sujeito ao estudo de um Plano de Ordenamento Paisagístico, que deveria consolidar o espaço do já chamado Parque Ecológico do Funchal (na vertente esquerda da Ribeira de St.a Luzia), ampliando-o á totalidade das cabeceiras referidas na constituição de uma ligação ao Parque Natural da Madeira (instituido em 1982), independentemente do regime da Propriedade do solo, proporcionando regras para a sua Gestão política e técnica, que deveria interessar á Administração Regional e Local de modo integrado.

Parques de transição

Os Parques de Transição deverão constitui-se nos terços médios dos vales, procurando articular o Parque Natural referido com os Parques Urbanos. Neste sentido são aqui designados como Parques de transição, uma vez que correspondem a espaços situados nos vales encaixados do barrancos das Ribeiras, que não possuem uma articulação fácil com o tecido edificado, dado o desnivelamento forte, embora estejam na continuidade com o espaço dos Parques Urbanos a jusante, e com o Parque Natural a montante. O seu caracter Tipológico é definido pela presença potencial da vegetação autócne, pela existência de Caminhos e Trilhos, pelo atravessamento de Levadas e respectivo sistema hidráulico, e pela presença pontual de equipamentos. Permitem um uso de recreio sub-urbano, permitem acesso pedonal à cota alta, e integram nos seus limites um sistema de Miradouros e Caminhos de Levada, que delimitam o espaço urbano edificado. Estes Parques de Transição têm expressão diferente nas diferentes Ribeiras.
Na Ribeira de João Gomes, de jusante para montante, inicia-se sensivelmente no ‘gancho’ da rua da Ribeira de João Gomes, aonde o sistema urbano termina com o acesso á VR1, e desenvolve-se até ao inicio da cabeceira, delimitandose pelo designado Caminho dos Pretos (ER201). A nascente o seu limite seria o designado Caminho das Voltas, Caminho do Meio, até interceptar o Caminho dos Pretos (ER201); enquanto a nascente seria confinado pelos limites dos lotes da Rua e Travessa Silvestre Quintino de Freitas, pelo Caminho do Lombo, depois Caminho da Lombada, unindo-se ao Caminho dos Pretos (ER201) por caminhos florestais.
Na Ribeira de St.a Luzia esta tipologia de espaço corresponde a uma realidade diferente, uma vez que a Ribeira surge encaixada no relevo de uma forma muito mais profunda desde o limite do caracter urbano da mesma, e coincide com a Estrada da Fundoa até se atingir o Parque Ecológico do Funchal. A função deste espaço será a de consolidar as vertentes no sentido da Conservação da forma Geológica e da instalação de formas diversas de vegetação autócne, consolidando os percurso de fundo de vale e de topo de escarpa, integrando-os nos lugares respectivos, promovendo uma ligação pedonal ao Parque Ecológico do Funchal. Os topos de vertente são tradicionalmente delimitados por Caminhos existentes e parcialmente integrados na malha urbana, que deveriam ser reperfilados e pontuados por miradouros. A nascente refere-se como limite o caminho dos Saltos, o Caminho dos Tornos até ao Parque Ecológico; enquanto a poente se refere o Caminho de S. Roque, o Caminho da Terça, que se liga a velhos Trilhos em direcção ao Pico, a partir da cota 550m.
A Ribeira de S. João surge mais integrada no tecido urbano, podendo dizer-se que é a partir do complexo desportivo do Marítimo que se torna mais autónomo, embora integrando um conjunto de equipamentos ao longo do seu vale encaixado, que é conhecido por Caminho da Ribeira Grande, e é delimitado no topo das vertentes a nascente pelo Caminho do Lombo do Jamboeiro e seguindo por Trilhos Florestais, enquanto a poente, o Caminho do Lombinho continua em direcção ao Pico por Trilhos Florestais. Este Parque de transição, deverá consolidar a vegetação de caracter autócne nas vertentes, consolidando os Caminhos referidos em trilhos que transitam até ao referido Parque Natural. O fundo de vale determinado pelo Caminho da Ribeira Grande, poderá integrar na consolidação dos Trilhos subsequentes, as obras de regularização hidrológica da Ribeira, que constituem elementos na Paisagem, de valor plástico surpreendente, até atingirem o Parque Natural.

Parques urbanos

(matas, prados, caminhos e levadas integrando bairros expontâneos)

Os Parques Urbanos correspondem a espaços públicos inseridos na malha urbana, que procuram integrar as Ribeiras e as Encostas no tecido urbano em que se inserem, gerando continuidades de fluxos pedonais e promovendo a articulação enquanto lugares centrais. Dadas as circunstâncias, correspondem a espaços encaixados no relevo dos barrancos das ribeiras, procurando estabilizar as vertentes e assegurar a sua percorribilidade e usufruto dos terraços agrícolas, de Levadas e caminhos. O seu caracter Tipológico é definido pelos caminhos e ruas que o delimitam à cota alta (e articulam com o tecido urbano), pelas vias de acesso descendentes, pelos terraços agrícolas (Poios) com cultura hortícola ou prado, pelos elementos das Levadas (Tanques, Canais, etc) Alamedas das Ribeiras Avenida do Mar (Alameda e Jardins existentes a articular)

João Gomes da Silva
Abril, 2017

DIACRONIA URBANA

Estudo da evolução urbana da cidade, assente em planos estratégicos que foram sendo elaborados ao longo dos anos.

DISPONIBILIDADES

Estudo do Concelho do Cidade do Funchal. Desenho e mapeamento dos elementos intervenientes no corpo da cidade.

LUGARES FORMA

Modelo de reordenamento da paisagem do Funchal. Proposta de leitura da base física onde se funda a cidade desde as suas zonas altas de Floresta até ao toque da cidade na Água.