O GABINETE

A criação do Gabinete da Cidade

Sobre o Gabinete da Cidade serão agora apontadas algumas palavras. As cidades terão que ser cada vez mais valorizadas, exploradas, conhecidas pelo olhar sensível de quem as estuda e quem as percorre todos os dias, de quem cultiva uma sensibilidade capaz de descodificar algumas das suas subtilezas e detalhes menos evidentes. A reflexão deliberada e atenta sobre as suas especificidades. No caso da arquitetura há uma sensibilidade especial baseada no desenho, na análise cuidada da cartografia urbana, nos documentos fotográficos da passado, da análise da passagem do tempo pela leitura de bibliografia, mas também, sobretudo das texturas e matérias dos seus edifícios e outros elementos. Os arquitetos, pela sua formação, têm um olhar transversal.

O que poderá fazer o Gabinete da Cidade

Caminhar, conhecer com os pés no solo, a céu aberto, no interior de alguns dos seus edifícios históricos; estudar nas mais diversas fontes, mesmo relativas à outros espaços distantes, a natureza específica do Funchal; refletir leituras e interpretações; fazer, desenhar revelar; propor ideias concretas sem temer a ousadia; comunicar, transmitir uma necessidade e uma urgência de transformação; implementar, com o auxílio do poder político, com a determinação de bem fazer.

Algumas medidas a ser concretizadas

Apresentação pública do trabalho realizado, chamar a cidade ao debate, expor todo o conhecimento produzido, discutir de forma aberta possibilidades imediatas de intervenção específica na malha urbana, sem deixar de pensar nas mais demoradas e ambiciosas propostas para um tempo longo, não conciliado com os ciclos políticos eleitorais.

O significado para a arquitetura

O significado deste labor, do Gabinete da Cidade, para a Arquitetura, como disciplina, pode ser o mostrar que a arquitetura é muito mais do que o projeto de edifícios, é sobretudo a construção de pensamento e reflexão sobre o habitat humano e, cada vez mais, o enquadramento das atividades humanas num planeta em célere transformação e perda de espaços de referência de natureza. Trazer a natureza para dentro das cidades e não expulsá-la.

O que pode ganhar a cidade do Funchal

O que podem ganhar as cidades com o seu estudo aprofundado é a consciência de si num mundo global, é o conhecimento claro da sua especificidade e singularidade num contexto planetário, é o caráter de “arte” do seu património, dos seus arruamentos, da relação com o solo e a paisagem envolvente. As cidades portuguesas têm, quase sempre, características muito próprias devido à sua antiguidade e ao terem sobrevivido incólumes a guerras extensivas.

Qual o papel da universidade neste tipo de estudos

A reflexão multidisciplinar, a envolvência dos alunos, o entendimento da cidade como tabuleiro de “jogo” de experimentação, de criatividade para a exploração e proposta de relações inusitadas e surpreendentes. Chamar pensadores de outras áreas, não apenas da história, da geografia, da sociologia ou da antropologia, mas também as disciplinas da criatividade, que são menos óbvias e quase sempre esquecidas nestes processos e na construção global do conhecimento.

Como continuar

Avaliar resultados, ter a noção da escala do tempo e que pode ser morosa a implementação de medidas e, sobretudo, a obtenção de resultados imediatos. Perceber, da parte do poder político, a importância de um olhar claro sobre a cidade e a determinação na continuidade do estudo cada vez mais aprofundado.

Duarte Belo